quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

CAVALARIA

CAPACETE

Colecção particular
Colecção particular




















De couro preto (A) com pala do mesmo material envernizada (B), em toda a a volta do capacete tem uma "banda" de reforço de couro ou de pele de cabra (C); sobre este, na parte anterior, ao meio e logo acima da pala, tem uma chapa de metal amarelo ou dourado, conforme o posto, em forma de elipse em que está em aberto o número do regimento (D). Francalete (E) de couro tendo cosido exteriormente escamas de metal dourado ou amarelo; este geralmente utilizava-se colocado para cima e atado na parte de trás ou da frente do casco. Por cima da copa tinha uma cruzeta de metal (F) para reforço e resguardo da cabeça do cavaleiro, das cutiladas dadas pelas espadas do inimigo.
Colecção particular
Colocado a meio do capacete e começando logo acima da elipse com o número, até à parte posterior do casco, tinha uma farta crina preta (G). Do lado esquerdo, era colocado o penacho de cor vermelha (H). Sobre o encaixe de penacho encontrava-se o laço com as cores nacionais azul ferrete e escarlate, sendo de lã para todos e de seda para oficiais (I), tudo conforme se vê nas respectivas figuras.


Colecção particular





Colecção particular

Colecção particular


 



















CAPACETE m/1806

Colecção particular
Este raríssimo e curioso exemplar de casco de cavalaria é uma peça extremamente interessante porque se trata de um capacete oriundo de uma região do nosso País na zona das Beiras, trata-se de um exemplar que foi confeccionado de um modo bastante rudimentar, possivelmente num artífice local, onde se baseou ou decalcou nos capacetes de cavalaria m/1806. Não tem local para o penacho, o emblema da parte da frente não tem número, o francalete é fixo "fingido?" e tem curiosamente cobre nuca.



Cobre nuca
Colecção particular
























 


Cobre nuca (pormenor)
Colecção particular







 




















Suponho que poderão haver duas hipotses: ou fui um militar de cavalaria que durante a campanha, vendo-se sem cobertura de cabeça, a mandou fazer "algures"; ou, talvez a mais possível, tenha pertencido a um militar de Ordenanças a Cavalo, corpo esse possivelmente criado localmente por alguém de posses, por exemplo um Morgado, um Nobre ou um Patriota que as tenha constituído para fazerem frente aos franceses. Não se sabe. A única coisa de que tenho conhecimento é que este exemplar esteve guardado durante muitos, mas mesmo muitos anos no mesmo local e na posse da mesma família, o resto é um mistério, apenas ao manusea-lo se vê que é bastante antigo e de muito uso.


Interior do capacete
Colecção particular


Texto e ilustrações: marr

domingo, 8 de janeiro de 2012

CAVALARIA

AS COBERTURAS DE CABEÇA
PARA A CAVALARIA

Na nossa cavalaria, ao longo dos séculos, nunca foi regra a utilização de capacetes metálicos, talvez por estes serem quase exclusivamente de utilização da cavalaria pesada. A única excepção foi durante a Guerra da Restauração (1640 a 1668), onde se utilizaram coberturas de cabeça, em ferro, por exemplo: nas companhias de lanças, couraceiros, etc.

No ano de 1764, o Conde Lippe ao mandar publicar o Regulamento de Uniformes hesitava entre a utilização de chapéus ou capacetes para as suas tropas montadas, assim: "(...) enquanto eu não tomar resolução sobre a dúvida de ser mais conveniente às minhas tropas o uso de cascos (capacetes), ou barretes (tricórnios) (...)", efectivamente acabou por se decidir pelos chapéus, por vários motivos: pela sua leveza, por a nossa cavalaria ser ligeira; por uma questão económica para a fazenda; pelo tipo de clima do nosso País, etc.,

Séculos mais tarde, já por volta do ano de 1900, os capacetes de metal foram utilizados pela charanga da Guarda Municipal de Lisboa, que mais não era que a adopção do capacete francês modelo 1872/74. Tendo, mais tarde, sido utilizado por todo o pessoal da charanga a cavalo da Guarda Nacional Republicana, contudo faz já algumas décadas que os colocaram de parte, segundo se consta, por serem "pesados" e "incomodativos"...

Só a partir da publicação do Plano de Uniformes de Maio de 1806 é que ficou estabelecido, para toda a cavalaria de linha, a utilização de capacetes (cascos) de couro, reforçado com cruzetas de metal. Contudo já nas últimas décadas do século XVIII, se utilizaram cascos ou barretinas de couro para a cavalaria, no Ultramar (Brasil) existem bastantes fontes iconográficas dessas coberturas de cabeça.

Em 1956, na Exposição Histórico-Militar do Porto, esteve exposto uma barretina de couro pertencente ao Regimento de Cavalaria de Bragança, supondo-se que tivesse sido utilizado por volta de 1800, assim como a barretina da cavalaria da Guarda Real de Policia em 1801.

Será que os modelos, pré-1806, funcionaram a título exprimental até se adoptar o modelo definitivo do Plano de 1806? Tudo nos indica que sim.
Texto: marr






terça-feira, 3 de janeiro de 2012

CAVALARIA



Charanga a cavalo da G.N.R.
O cavalo sempre foi uma das grandes paixões dos portugueses, sendo raro o cidadão que não gosta desses animais. E por alguma razão, durante qualquer parada, todos aguardam com ansiedade a passagem a galope dos esquadrões da Cavalaria da Guarda Nacional Republicana...  isto sem falar dos animais de Alta Escola, o desfile de cavalos tirando os mais diversos modelos de carruagens na já famosa feira da Golegã. Quem poderá ficar alheio ao passar dos campinos em Vila Franca de Xira ou a uma manada com os seus saltitantes poldros em alegre correria pelas lezírias Ribatejanas? Até as pessoas que não gostam de touradas apreciam ver as cortesias nas corridas à Antiga Portuguesa...

E quem poderá ficar indiferente à lenda sobre a origem do cavalo Lusitano? Conta-nos a história que Lisboa teve um lugar sagrado, um "monte santo", onde se criavam éguas fecundadas pelo vento... pelo menos uma coisa se nos afigura como verdadeiro, o local que ainda existe: Monsanto...!

Cavalo Lusitano
A fertilização das éguas pelo vento remonta ao mito da fundação de Lisboa por Ulisses, contudo esta afirmação indica-nos a existência de uma criação de cavalos "muito velozes, superiores aos normais", a que se poderiam chamar "filhos do vento". Estará esta lenda ligada à origem dos cavalos Lusitanos? Talvez, não se sabe...

A história do homem, nas suas grandezas e misérias, sempre foi partilhada com este animal, pelo menos até meados do século XX, terminando assim uma amizade  homem/animal, substituída pela ligação homem/máquina.

Hoje, a sua sobrevivência depende em primeiro lugar de nós e espero que este companheirismo não seja esquecido pelos humanos em abono das máquinas frias e poluidoras...

A nossa Cavalaria sempre foi ligeira, isto é, homens vestidos e armados "à ligeira", sendo a sua base os Dragões. Após a Guerra Peninsular passou a haver no nosso Exército duas espécies de Cavalaria: Caçadores a Cavalo e Lanceiros. Em parte, esta opção foi devida a várias causas, sendo algumas delas as seguintes:

- Cavalos pouco robustos, mas muito ágeis.

- Terrenos muito acidentado, uma vez que a cavalaria pesada
  necessitava de bastante terreno livre para carregar, o que no
  nosso País tal só poderia acontecer nas planícies alentejanas.

- O armamento, ofensivo e defensivo era mais aligeirado, o que
  permitia uma melhor mobilidade no terreno, e como o clima
  tem muitas oscilações térmicas (muito quente no Verão, frio
  e chuvoso no Inverno, além da haver dias quentes e noites frias),
  era necessário grande ligeireza.


Dragão do período da Guerra da Restauração
Colecção particular

Os Dragões sempre foram considerados "infantaria montada", quer isto dizer que tanto combatiam montados como apeados, embora durante o século XVII o termo "Dragão" significasse o hábito de desmontar para combater. Quer-se com isto dizer que as Companhias de Dragões eram consideradas: "como infantaria de mosqueteiros a cavalo, sendo providas de bandeiras, um pouco mais pequenas que as da infantaria. Marcham ao som de tambores ou atabales, o que é mais apropriado para o género de movimentação e manobras que executam; uma vez que tanto podem combater a pé como montados".

Este estado de coisas começou a cair em desuso a partir do inicio do século XVIII tendo desaparecido totalmente no seguinte, ficando apenas o termo "Cavalaria".

Com algumas excepções continuou-se a utilizar a palavra "Dragão" apenas como tradição, tendo como exemplo o Regimento de Cavalaria N.º 3 que era , e ainda é, conhecido pelos "Dragões de Olivença".  E o renascer em Angola dos "Dragões de Silva Porto", durante a última Guerra do Ultramar, foi precisamente no ano de 1967, no Leste de Angola, que foi criado no Grupo de Cavalaria N.º 1 (Dragões de Silva Porto) um pelotão montado, que obteve bastante êxito, tendo dado inicio à sua actividade operacional sensivelmente em 1970.

A utilização destes militares montados teve várias vantagens principalmente no que dizia respeito à sua mobilidade 50/80 quilómetros por dia. As suas frentes alargadas  evitavam as emboscadas; eram silenciosos, chegavam a locais de difícil acesso a pé e evitavam as minas porque não se deslocavam pelas picadas. A título de curiosidade, estes cavalos não eram ferrados.


Grupo de Cavalaria N.º 1
"Dragões de Silva Porto", c.1971
Texto e ilustrações de: marr