quarta-feira, 15 de junho de 2011

O TAMBOR-MOR E O TAMBOR


O TAMBOR MOR
"Como ele orgulhoso manobrava outrora à frente do seu regimento, o bastão caprichosamente ornado! Alto, desempenado, ar soberbo, cônscio da sua importância, era a flor do regimento.

Popularíssimo; quando pela primeira vez as tropas formaram privadas desta imponente figura regimental, houve quem chorasse, e o rapazio, que tão alegremente evolucionava acompanhando os soldados, esteve nesse dia silencioso como num enterro...

Ter bom entendimento e boa ponta de língua; porque de ordinário, diz a ordenança, servem estes no tempo de guerra de mensageiros de notícias à parte contrária, onde se mandam com o título de bolantim, e muitas vezes são mandados com malícia só a fim de conhecer as alturas dos fossos da praça e suas defesas e entradas das portas e como estas são guardadas e se vê muita soldadesca na guarnição, e estar atento se ouve queixar a gente do povo ou os soldados por falta de mantimentos, ou mal contentes do governo ou por mal satisfeitos de pagos ou de vestidos, condições que são de utilidade saberem-se.

Oficiais do Serviço do Estado-Maior realizam hoje reconhecimentos que incumbiam ao tambor-mor, e nos exércitos onde os conservam ele é simplesmente o mestre de tambores; mas deixou de si tal fama esta tradicional figura que um príncipe da casa de Orleans, oficial do exército dinamarquês, encontrou na história dos tambores-mores elementos para um interessante livro.


Eu fui tambem dos que sentiram pesar ao vê-lo desaparecer da testa da coluna da nossa infantaria onde a sua personalidade aparatosa brilhava.


Quantos de nós, filhos de velhos soldados, no tempo em que a próxima recordação de feridas campanhas alimentava o espírito de classe, não invejamos o marcial aspecto do sargento de tambores?

Quantos de nós não tiveram como suprema aspiração, nessa idade feliz, o chegar a tambor-mor!"

Coronel Ribeiro Arthur
In: Portugal Militar, n.º 5 de Maio de 1903




Da esquerda para a direita:
Pífano de Infantaria 11, uniforme de Inverno, modelo 1810/1815 *
Tambor-mor de Infantaria 9, uniforme de Verão, modelo 1806/1810
Tambor de Infantaria  4, Cabo, uniforme de Inverno, modelo 1806/1810
Aguarela do mestre Carlos Alberto Santos
Por especial autorização para este blog
Colecção particular

* Assunto a tratar brevemente


TAMBORES E PÍFANOS
A utilização dos tambores era inteiramente funcional, marchando sempre ao lado do seu comandante. Os diversos sinais executados pelos vários toques da Ordenança, nomeadamente a Marcha, Recolher, Alvorada, Generala, Pegar nas Armas, Chamadas, Faxina, Bota Carga, Tropa, Retirada, Bando, Carregar, etc., etc., equivalem, modestamente, aos modernos meios de comunicação via-rádio, com  intuito de transmitirem as ordens do comandante às tropas.

Como se pode verificar, além de serem a "voz do comandante", também eram utilizados para marcar o tempo de "avançar sobre o inimigo", quer travando o passo aos mais afoitos, quer encorajando os mais tímidos...

Um dos deveres mais "sinistros" dos tambores era, sem dúvida, o de tocarem durante as execuções. Assim:
-  Quando houver que se executar sentença de morte, o criminosos será levado com boa guarda ao lugar da execução, aonde as tropas se encontrarão formadas em batalha, tocando os tambores, se mandará lançar bando em que se proíba com a pena de morte a todos os soldados de qualquer qualidade de derem vozes de perdão ao delinquente, tocando novamente os tambores até se efectuar a execução.

Era igualmente uma das suas funções guardar os prisioneiros de guerra em campanha e fazer de correio, levando ou trazendo mensagens para e do inimigo. Outra função pouco agradável era a de "verdugo", uma vez que executava os castigos aos outros militares, nomeadamente as varadas, os tratos de polé, o tornilho, etc.

Não era de admirar, por isso, que a sua fama não fosse das melhores; contudo, esta acabou por se ir atenuando, tendo-se dignificado a sua carreira com o decorrer do tempo.

Quando faziam parte de uma "banda de música", eram os únicos membros que, por tradição, eram treinados para o combate.

Os pífanos executavam as mesmas tarefas dos tambores, contudo, não tinham toques de Ordenança, limitando-se a tocar durante as paradas, marchas, revistas e por vezes acompanhavam os tambores quando as tropas carregavam sobre o inimigo.

Os Tambores e Pífanos recebias 43 réis, além do pão de munição, isto depois dos descontos para o fardamento; os primeiros, quando pertencessem à Companhia de Granadeiros, venciam 67 réis de soldo

Texto de: marr

Sem comentários:

Enviar um comentário